70
Minha mensagem não é especificamente endereçada a ninguém. Destina-se a todos que se dispuserem a lê-la. Em breve, completo 70 anos. De um lado, feliz por ainda ter boa saúde, pelo privilégio de ter uma mulher maravilhosa ao meu lado e de, ainda, devotar admiração por algumas poucas pessoas. Por outro lado, muito triste pela saudade enorme que me acompanha desde que minha mãe extinguiu-se. Percebam que, propositalmente, não ouso fazer uso da expressão "se foi" ao me referir ao aniquilamento de nossas vidas. Afinal, quem vai, vai para algum lugar. Como a morte não nos encaminha a lugar nenhum, a palavra extinção, creio, é subsequente a última batida de nossos corações. Portanto, extinção pura e simples. Nada além de uma obviedade jamais digerida pelos "imortais". Por conseguinte, mortais e imortais, entre alegrias e tristezas, chego aos 70. Decepções, devo admitir, poucas e administráveis no decorrer da vida. Exceto as que me foram impostas, nos últimos tempos, por muitas pessoas que sempre me foram caras. Torturante assistir pessoas queridas entregarem-se a aplaudir o inconcebível, o nefasto, o escárnio e o desprezo pelo sofrimento alheio. Decepcionante ver meus queridos empenhados na defesa intransigente do mentor de palavras cruéis que pisotearam e pisoteiam a amargura dos que perderam e perdem seus entes queridos. Mimimi, e daí, eu não sou coveiro, maricas, vão ficar chorando até quando. Depois, na sequência, aplausos, aplausos e mais aplausos. E, sobretudo, as gravíssimas e indesculpáveis reafirmações de admiração pelo triste e lamentável autor dessas iniquidades. E aqui não trato de ideologias. Nem de direita, nem de esquerda e nem de centro. Todas são válidas e aceitáveis desde que não sejam embasadas pela perversidade. E para a decepção de muitos, não estou do "lado esquerdo". Então, encerro meu depoimento não solicitado. Os 70 chegando, tristeza de ver poucos amigos na relação dos "admiráveis". Afinal, meus amigos mostraram-se. E nunca é tarde para que possamos nos revelar. Os que foram infantilmente bloqueados por mim estão reabilitados. Bobagem não ser assim. Somos o que somos. Seguimos nossas escolhas. Apoiamos tudo aquilo que nossa consciência nos autoriza.
Afinal, vão ficar chorando até quando? A gente não chora. A gente aplaude, dirão muitos. Vida que segue.
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